Depois de escrever sobre o Cão Lobo, Jed, vamos lembrar de um outro cão famoso, Higgins, muito mais conhecido no Brasil pelo nome de seu personagem: Benji.
Higgims foi achado em um abrigo de animais por Frank Inn, um treinador de animais para shows e filmes, na década de 1960 em Burbank. Higgins era um prodígio, ele atuou por 14 anos em Hollywood e era capaz de aprender um truque novo toda semana e lembrá-lo por anos. Sua capacidade de transmitir emoções com seus movimentos de olhos e cabeço garantiriam a ele o status de ser um dos cães mais lembrados de Hollywood.
Foi em seu último papel que ele chegou ao estrelato, em Benji (1974) ele ficou conhecido. A grande ironia aqui é que seu nome nem aparece nos créditos do filme. Agora, você já deve ter feito algumas contas de cabeça e percebeu que as datas não batem né. Você puxa da memória e percebe que assistiu pelo menos uns 3 filmes com o Benji, incluindo um seriado de um menino que veio do espaço e é defendido por um cachorro, certo? Ai você pensa que cães não vivem tanto tempo assim, e que aquele Benji dos outros filmes não era o Higgins.
Desculpe destruir a sua infância agora, mas suas contas estão certas, quando você, como eu, assistiu Benji, e suas continuações nos anos 80, Higgins já estava mortinho. Ele nasceu em 12 de dezembro de 1957 e faleceu em 11 de novembro de 1975. Higgins participou também da série A Família Buscapé e fez mais de 150 episódios de Petticoat Junction.
O outro cão, que todos nós achávamos que era o mesmo, foi Benjean, Era na verdade uma fêmea e fez todos os filmes depois de Benji e inclusive a série Benji, Zax & the Alien Prince. O último filme de Benjean foi Benji Desafia a Selva em 1987.
Agora que já te lembrei de um cachorro que provavelmente te fez querer ter um igualzinho só pra estragar sua infância, fique com algumas cenas de Higgins e Benjean:
É tarde da noite, uma reprise passa no Corujão, O Enigma de Outro Mundo (The Thing, 1982), você começa a ver e é claro, já viu esse filme antes. O filme vai passando, você meio dormindo, mas uma cena chama sua atenção, dá aquela despertada e na tela, aquele cachorro que corria no começo do filme agora virou um monstro. Os efeitos especiais são ótimos e tal, mas não é essa parte que interessa hoje, mas sim o tal cão, ou lobo, na verdade as duas coisas.
Jed não é lembrado por esse seu pequeno primeiro papel no cinema, mas é muito lembrado por Caninos Brancos (White Fang, 1991).
Caninos Brancos, (White Fang, 1991) é uma adaptação do livro de Jack London de 1910. Durante a corrida do ouro, um filhote de lobo é capturado e feito animal de estimação. É um daqueles filmes da época que a Disney ainda fazia live actions (com o selo Disney) e é daqueles filmes que toda criança nos anos 90 assistiu e que hoje se perguntaria: Como me deixaram ver isso?
trailer
Os longas para crianças nos anos 80 e começo dos anos 90 eram do tipo formadores de caráter, em outras palavras, traumatizar para toda a vida. Não acredita: O regresso do Corcel Negro, Em Busca do Vale Encantado, Labirinto, e é claro Caninos Brancos.
Antes disso Jed já fez outro grande papel, Viagem Clandestina ou a Grande Jornada, o filme saiu com esse dois nomes no Brasil (The Journey of Natty Gann, 1985). Esse é um ótimo filme da era dos live actions dramas da Disney, o tipo de coisa que, como Caninos Brancos, formou caráter, mas que hoje é considerado um tanto emocionalmente pesado para crianças.
Não lembra? Toma uma resenha:
Em 1935, durante a depressão, o pai de Natty só arruma um emprego numa madeireira muito longe de casa, ele não tem como levar a filha de 12 anos. Ele a deixa a cuidados de uma amiga, que odeia a menina e vai, assim que recebesse o primeiro salário mandaria dinheiro para ela viajar. Mas ela foge e toma uma grande viagem até seu pai. No caminho ela resgata um cão-lobo de rinhas de cães e conhece Harry, um órfão. É uma boa história de crescimento, jornada e estrada.
trailer do filme
A participação do nosso lobo preferido
Um ótimo filme, difícil de achar, beirando o quase impossível, Caninos Brancos é bem mais acessível, e tão bom quanto, mas vale o esforço de procurar Viagem Clandestina. Ainda é um ótimo filme de busca, crescimento, jornada e todas essas coisas esperadas de um filme desses.
Mas, Jed morreu depois de um filme bem ruim, como Raul Julia que tem uma carreira impecável, mas tem como seu último filme Street Fighter. Jed morreu um ano após reprisar seu papel em Caninos Brancos 2. Deve ter morrido de roteirite. Eita filme ruim.
Tudo que Caninos Brancos tem de bom, sua continuação tem de ruim. Roteiro fraco, continuação desnecessária e um drama completamente vazio. Pra quem é muito novo é como Marley e Eu e sua continuação completamente esquecível.
Jed nasceu em 1977 e morreu aos 18 anos em 1995, ele ela misto de lobo com malamute do Alasca. Com 4 filmes, e em dois no papel principal, foi o cão que muita criança, hoje beirando os 40, gostaria de ter. Ele foi treinado por Clint Rowe, um dos mais famosos treinadores de animais de Hollywood.
O Estúdio Arteprojeto orgulhosamente inaugura seu blog, como essa inauguração, com alguns motivos de agenda de quem vos escreve aconteceu dia 8 de março, nada mais justo do que começar com um texto sobre como mulheres podem fazer tudo, até irem contra a tradição de 4000 anos e treinarem águias reais para a caça.
Conheça Aisholpan, uma garota da Mongólia que aos 13 anos de idade tornou-se mestra na arte da caça com águia e ainda ganhou o campeonato de caça com águias reais mais importante do mundo.
O documentário acompanha a jovem Aisholpan,uma mongol de 13 anos que, a despeito das tradições, quer se tornar uma mestre de águia caçadora. (sei lá como traduzir isso corretamente). A palavra mais próxima é falcoaria, mas o bicho ali é ligeiramente outro A garota e sua família vivem na região de Altai.
The Eagle Huntress foi lançado em 2016, sua filmagens são de 2014 e Aisholpan foi descoberta na parte rural da Mongólia por algumas fotos que circularam no Facebook. Otto Bell gostou do que viu, começou a trabalhar no assunto e em pouco tempo estava voando com a equipe para a Mongólia.
O documentário acompanha a vida de Aishopan Nurgaiv e sua família. Ela, desde pequena encantada com as águias do pai. Sua mãe relata que ela ficava hipnotizada olhando para os animais. Quando sei irmão mais velho vai para o exército, Aisholpan assume muitas das tarefas dele, isso e seu desejo por caçar com águias e sua afeição pelas aves levam a seu pai, indo contra o costume, a ensinar uma garota a caçar com águias.
No começo do documentário vemos a vida na casa modesta da família e uma breve explicação da falcoaria (não existe aguiaria) naquela região e de como os mongóis de origem do Cazaquistão se identificam como povo a partir da caça com águias. Também ficamos sabendo como é a escola, Aisholpan passa a semana em um internato, seus irmãos também, e vão para casa nos fins de semana. Seu maior desejo enquanto está na escola é a chegada logo do fim de semana para treinar com a águia de seu pai.
A primeira parte acaba com um tipo de ritual de passagem, a menina vai até um ninho de águias reais e captura um filhote, segundo seu pai, eles já estão grandes o suficiente para viver fora do ninho, mas ainda incapazes de voar. Eu estava imaginado algo do tamanho de um frango, mas mesmo um filhote de águia real é uma monstruosidade bem agressiva. Aisholpan sobe as montanhas com seu pai, desce um desfiladeiro ingrime e consegue chegar até o ninho e capturar sua águia. O treinamento continua e a águia vai crescendo e se torna um animal bastante forte e com uma conexão bem estabelecida com sua dona.
Na segunda metade é sobre a competição de caça com águias. nunca houve uma mulher que participasse, mesmo que outras mulheres já tenham sido caçadoras com águias. Aisholpan e seu pai rumam em seus pôneis para lá. Somos apresentados a 3 provas. Roupas e cavalo, Puxar a presa e o mais importante, o recebimento da águia. Aisholpan, vai bem nos dois primeiros e quebra o recorde da terceira prova com o tempo absurdo de 5 segundos (a média de tempo é de 11 segundos). Se fosse um filme pareceria forçado demais. Não por ela ser menina, mas por ter apenas 13 anos e competir contra experientes caçadores e mesmo assim ganhar.
E a terceira metade somos apresentados a verdadeira prova de fogo, ou melhor, de gelo. Caçar no inverno, nas fronteiras entre e China e Mongólia. Os pôneis atolam na neve, a águia perde a raposa algumas vezes, é uma parte bastante dramática. O documentário não aponta o tempo de viagem e caça, mas numa entrevista posterior Otto Bell revelou que foram 22 dias.
O documentário ganha pontos com suas imagens, são simplesmente lindas, as montanhas, as rochas e por último a neve. As águias reais são absurdamente lindas em voo, são máquinas de matar de 15 quilos sendo carregadas no braço de uma menina por muitos quilômetros. Visualmente é um documentário irretocável, uma pena eu só conseguir na locadora do Paulo Coelho uma versão de DVD, pelas paisagens e filmagens com gopro nas águias merecia muito ser visto em 1080p.
Como narradora, mas bem pouquinho na verdade, temos Daisy Ridley. A narração é sucinta e pontual, o que deixa espaço para as imagens e para os depoimentos de Aisholpan e sua família, principalmente seu pai. Por outro lado o documentário carece um pouco de informações. A caçada com águias é bastante complexa e difícil de entender apenas observando, e ela só vai acontecer bem no final do filme. Outro ponto negativo são as opiniões de alguns anciões sobre meninas e águias, eles são veementemente contra, mas não sabemos quem são esses homens, só deduzimos que são importantes na comunidade por sua idade e roupas vistosas, mas nenhuma identificação é feita.
Outro problema é a mão pesada no discurso. A mensagem “uma garota pode ser e fazer o que quiser” está clara, muito clara mesmo, não precisava ser reforçado pela narração, pelos depoimentos e pela música dos créditos. Não é uma música ruim, na verdade é até legal, mas é tão obvia em sua letra e tão igual o que já foi afirmado que deixa a coisa mais explicita do que o necessário.
O tempo de documentário é na medida, quase uma hora e meia, talvez um pouco mais de informação seria bem vinda, por outro lado o drama está na dosagem certa. Mesmo sabendo que a menina vai conseguir pegar a águia e que não vai se esborrachar montanha abaixo, mesmo assim a tendência é se inclinar mais na ponta do só fá e torcer por ela. O mesmo vale para o campeonato e para a caçada na neve.
Aisholpan é duma determinação impar, uma mistura de educação para a caça, condições adversas de clima e vida e temos alguém bastante resiliente e capaz de com apenas 13 anos atravessar a neve puxando um cavalo e carregando uma máquina de matar de 15 quilos no braço.
Li em alguns lugares que o documentário apresenta Aisholpan, a garota que é capaz de inspirar outras meninas a fazerem e ousarem mais, discordarei disso em parte, não é apenas um exemplo positivo para o sexo feminino, mas pra qualquer um.
O filme não tem release oficial em português, mas é relativamente fácil de achar na locadora do Paulo Coelho, também não tem legenda em português, mas as traduções automáticas da internet deixam as legendas em inglês razoáveis para assistir. O filme é quase todo em Cazaque, então pra maior parte da população as legendas são bem necessárias.
Alguns dados que não estão no documentário e que podem tornar a experiencia de vê-lo mais profunda:
Mongólia:
A Mongólia não tem mar, faz fronteiras com a China e com a Rússia, mesmo não tendo fronteira com o Cazaquistão são relativamente próximos e uma parte da população descende de lá. É um país semipresidencialista, maioria budista, uns 90%, e vem de uma história de luta e conquistas por povos nômades. Pouco mais da metade da população é urbana, mas tem uma vasta área rural e povos nômades que estão diminuindo em detrimento de assentamentos rurais. É a menor densidade democrática do mundo. https://pt.wikipedia.org/wiki/Mong%C3%B3lia
Caçadores com águias: Caçar com águias, que em português a gente chama de falcoaria, mesmo sabendo que o bicho está ligeiramente errado, tem sua origem nas estepes da Eurásia. A tradição da falcoaria tem mais de 4000 anos. https://en.wikipedia.org/wiki/Hunting_with_eagles
Águias Reais: A águia reais é a espécie de águia mais abundante do planeta, ela também é o animal preferido para a falcoaria, seu tamanho absurdo até para uma ave de rapina, sua ferocidade e agilidade lhe garantem ser o companheiro perfeito de caçadores. Até lobos são caçados com esses animais. Esse bicho pode viver mais de 20 anos, alguns chegando aos 30 e passando. Eles medem 66 a 102 cm de comprimento e de 1,8 a 2,34 m em envergadura e pesam uns 15 quilos. Em outras palavras, é um passarinho grande, muito grande!
Nota: Golden Eagles são traduzidas como águias reais em português.